Enquanto Navegávamos
Só que os encenadores (Ricardo Simões e
Guillermo Tello) jogaram com todos os trunfos que tinham à sua disposição,
dando, estrategicamente, um brilho maior à arquitectura do espectáculo no seu
todo e não tanto às debitações dos actores. E esse trunfos passaram por 1) uma
forte utilização dos adereços saídos da teia, (dois dos momentos mais belos
resultaram daqui) 2) uma marcação de palco que explorava e bem as profundas de
todo o espaço cénico - fazendo lembrar a imensidão dos estaleiros e até da
própria “Coreia” (interessante expressão
do calão operário referindo-se à distante guerra da Coreia), 3) a música de
cantores que todos conhecemos e que fazem parte da nossa memória, 4) uma
excelente arquitectura de luzes, delimitando espaços, momentos, emoções. A
surpreendente cena final, a melhor de todas, resulta daqui, com o grupo
simbolicamente a “afundar-se” até ao sub-palco 5) utilização do proscénio e
entrada dos actores pela assistência 6) sequências de pura expressão corporal. 7) A marcha insistente, repetida e longa (outro momento muito belo) para marcar o 25 de Abril, fugindo à estafadíssima Grândola que neste momento serve para tudo. 8) E nessa cena final evitando uma sequência panflaeária de punho no ar e mais Grândola.
Só faltou na esteira do melhor teatro sul-americano uma canção final, quando os actores surgem para receber o prémio sem preço: os aplausos acalorados do público, com repetidas chamadas ao palco.
Gostei
de tudo? Não. Houve momentos de uma certa monotonia, a dicção destes operários
duros nem sempre foi a melhor, embora tenham partido muito pedra (é certo que já vi disto em alguns profissionais,
portanto…). O quadro arrastado dos “adeuses” aos barcos saindo doca foi longo
e monótono. Além de ver uns operários com a cara escanhoada e lisa como mármore.
Mas é um espectáculo digno e portentoso, que preenche a alma de quem gosta de teatro com momentos muito bons de pura beleza e alguma inquietação.
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