O POETA NO FIM DA LINHA
(a partir de uma confidência do poeta António da Silva Melo)
Enquanto sua mãe o espera no fim da linha, deleita-se o poeta no silêncio da catacumba. Entre relâmpagos e seios de mulheres, as angústias que o sufocam derramam-se no papel branco onde vão nascendo versos atrás de versos, semelhantes aos ventos que enrugam as almas e secam os rios.
Enquanto sua mãe o espera no fim da linha, os seus versos torna-se cilícios ferindo a carne, e a carne deixando exangue. A morte anuncia-se em cada flagelação, e hoje os velhos enforcam-se nas tardes outonais, os predadores de falas invencíveis atraem as crianças. O sopro do medo exige novos funerais .
Sua mãe espera o poeta no fim da linha. É a única capaz de lhe dar a absolvição.
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