segunda-feira, 14 de abril de 2014

                                           Senhora dona Esperança de Jesus (Picolina)

os meus dedos esceventes, numa aurora de luzes cristalinas, debruçaram-se sobre o papel desafiadoramente branco, e trataram de redímir e resgatar a senhora dona mais proscrita da cidade. ela, sim, achincalhada, paupérrima, ridicularizada, eliminada das convivências dignas da sociedade que se porta bem. os meus dedos escreventes, pela primeira vez, teceram frases no tear difícil da poesia e procuraram a inspiração numa velha messalina, velha, velha, esquálida. repito: proscrita. tentaram a sua redenção, repito. desejaram o seu resgate, repito. mas logo as vozes da moralidade suspeita atiçaram aquela senhora dona contra mim. percorre a cidade esta pobre senhora dona à minha procura, convencida que estou rico à sua custa e à custa do seu nome.
minha querida senhora dona, como podem fazer de ti um pobre joguete? como podem os ódios ressaibiados, camuflados também,  lambedores das feridas das suas frustrações, fazer de ti um pobre títere?
como se não bastasse teres sido explorada, humilhada, desfesnestrada, avilentada, ainda fazem de ti um fantoche manipulável.
hipocrisia será sempre hipocrisia seja ela dita em que língua for, habite ela que ser humano habitar
                                                    
                                                     Não me faças cumprimentos
                                                     deixa-te de hipocrisias
                                                     o alívio dos maus sentimentos 
                                                     não se faz com cortesias
                                                                                 António Aleixo

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