MATER FECUNDA
estou-te grato, clara chuva,
por seres uma lágrima túrgida
imersa num milhão de lágrimas
(trans)lúcidas, irrepreensíveis
avessa às levianas designações dos homens,
fazes o que se te impõe fazer
(cognominam-te de mau tempo,
mas os outros, sim, os outros,
que sabem de ti?)
tombas sobre nós, em nós,
simples e desprendida
frutificando o chão engenhosamente
vede, homens urbanos,
como ela
faz rejubilar os cedros dos campos-santos
e gerar flores inesperadas na invernia
vede, vede,
a sua determinação,
ao negar-se aos vossos caprichos
por ti sei da cor da vida
da respiração dos sapos humildes
por ti sei que o solo das nossas raízes
jamais será um mar seco
coalhado de destroços
tão inúteis como esquecidos
vem, vem, clara chuva
e fecunda (-nos)
quinta-feira, 26 de junho de 2014
terça-feira, 24 de junho de 2014
mater miraculosa
mater miraculosa
Ganham peso, escurecem
as nuvens grávidas de assombro líquido.
Esta é a chuva incorrigivel,
refractária às regras voluveis dos homens.
Tombas na Terra, nas terras,
para cumprir a promessa ad hominem
(eu bem ta escutei)
que jamais envelhecerás.
Cais líquida e lustral,
e nesse diálogo com os pássaros,
sorriem-te as seivas vitais.
´
De ti, mater miraculosa,
não escarnecerei os régios decretos
nem as disposições conciliares dos deuses.
Vede como sou feliz à hora em que te recebo
e de ti (em ti) me embebo / embebedo
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Caxinas 0 - Baviera 4 (ai meu Deus!)
Campeonato Mundial
da Pinchona no Pé
Caxinas 0 - Baviera 4
Pois foi isso mesmo, quatro vezes a pinchona a entrar na baliza dos lusos, os nossos às aranhas, aos papéis, o madeirense Nuno`Álvares Pereira estupefacto,´ isto é Aljubarrota virada ao contrário, é o 25 de Abril em que o Salgueiro Maia regressa a penates, o Otelo dá à sola, a Grândola Vila Morena entra no index pidesco: "Se quereis música contentem-se com o fado e o Quim Barreiros"
Mas quem nos derrotou no Brasil não foram onze alemães chutadores da bola. Os algozes da nossa frustração chamam-se Beethoven e Shumann, Shiller e Gunther Grass, Karl Orf e dr Faust, as Valquírias e Erich Maria Remark, Bertold Brecht e Pina Bausch,essa Ângela que veio do leste (credo, como ela veste tão mal!) e o Deutsche Bank, a pontualidade e o rigor, o respeito pelo trabalho e o sentido de cidadania; até essa porra chamada "Mein Kampf".
Por nós tínhamos muito pouco. Um dos nossos maiores escritores, o cagãozito do Eça, dava nas orelhas da nação sem dó nem piedade; o Saramago casou com uma espanhola (uma parte da sua nomeação para Nobel deve-se a ela e à poderosa editora para quem trabalhava),pirou-se para as Galápagos da Europa, cansado de aturar uns governantes censórios da Idade da Pedra.
Por nós tínhamos o fado, o de Lisboa e o da cidade chamada curiosamente "dos doutores"; o BPN e o(s) Duarte(s) Lima(s); o ai meu Deus!ai meu Deus!; a lamúria,;a senhora de Fátima;os ais, sempre os ais; a dificuldade em assumir qualquer culpa ou responsabilidade; essa coisa chamada "saudade" (que nós temos a mania de ser só nossa); ai que nos acode? ;o vinho que nos alimentou durante muitos anos; as sopas de cavalo cansado,o bagacinho pela manhã a matar o bicho; a patanisca remediada; olha o gajo como está rico, o filho da puta!; ai, Mouraria!; trabalho? trabalho é para o preto!; a baldice e o desenrascanço, pobretes mas alegretes, a mão pedinchona estendida ao Euro, à pimenta da Índia, ao ouro do Brasil; a admiração bacoca por tudo o que é estrangeiro; quem não chora não mama.
Levámos quatro secos da Alemanha? Olha que admiração.
Levámos quatro secos da Alemanha? Olha que admiração.
Subscrever:
Mensagens (Atom)