MATER MIRABILIS
[para o jovem agricultor Manuel Cabadas que morreu sob o tractor
na aldeia de Mansores (Arouca)]
da morte do meu filho não falarei
nem deste silêncio que me protege
como bivalve.
só eu, um eu desvalido,
pude usufruir do seu amor fecundo
(quero-te longe das luzes inclementes)
morreste
soterrado em juventude
tu que devias ter sido
e nem esperaste para ser.
Foste quase.
A morte, a impúdica morte,
solícita em seus cuidados intensivos,
solicita-te.
Solicitou-te.
Morreste, filho, estás morrido,
mas não morto
porque veio a chuva,
mater mirabilis,
e os sonhos voltaram a ser
o que sempre foram:
húmus e semente
Sem comentários:
Enviar um comentário