terça-feira, 8 de julho de 2014

A Mãe de Frei Bartolomeu e a Copa no Brasil (I)

          A mãe de Frei Bartolomeu e a Copa no Brasil (I)

              Como todos os dias, neste último mês, acordo a pensar como tenho que prosseguir, não sei muito bem como.  Estou-me a referir ao original que se me agarra aos dedos. É com eles ao computador que me estruturo melhor. À minha fábrica criativa onde laboram incessantemente os meus neurónios operários, deu-lhe para se virar para a figura de Frei Bartolomeu e sobre ele efabular uma tetralogia.
             Estou de volta, às voltas, com o segundo original que tem como protagonista Maria Correia, sua mãe. As minhas dúvidas prendem-se com o seu carácter, sabendo como uma mater -qualquer mater - tem um peso tão importante na mentalidade dos filhos. Que faço com a senhora?
            Curiosamente é a ver futebol que as melhores ideias me ocorrem, e é nesta atitude passiva de mero espectador que me considero um grande escritor. Ali redijo num bloco de notas que nunca me abandona, as frases que me soam como exemplares. Vou ouvindo os sábios comentários do Freitas Lobo e há tiradas que me deslumbram quando descontextualizadas:
                                           
                                                         Ganhou o duelo no ar
                                                         Os alemães estão claramente por cima
                                                         Este golo é a picada da abelha
           
            Uma coisa é sentir-me habitado por fantasias e frases que alimentam os meus neurónios operários, a outra é ir para a frente do computador e disciplinar os dedos escreventes em sequências legíveis e atractivas mas que não caiam na banalidade e no esperado. A escrita não pode ser moralista, a escrita é uma linha no horizonte que se morde a si mesma e se recria a todo o momento, quantas vezes de uma maneira penosa. A escrita é a minha vida secreta, íntima, que alimenta-me a agorafobia de que padeço. Inexoravelmente.
               Bom, o que faço então com o  temperamento de Maria Correia? Tenho que fugir aos esterotipos, evitar o que outros, muitos outros, já escreveram. Não tem graça. Repito a pergunta: era muito bondosa e paciente com o filho Bartolomeu? Não. Tenho que lhe encontrar algo de sui generis, identificativo e único, para a tornar romanescamente interessante.
           Freitas Lobo a falar:
                                                 Os alas franceses desapareceram
                                                 Isto sim é a beleza do futebol, acima disto apenas o céu
                                                 É o Matudi que está a levar a França às costas
 
        Todos os dias (gozo desta mordomia em desconhecer Domingos e feriados) me apresento à história. São sete da manhã - são sempre sete da manhã -  chove, apesar disso os melros cantantes afadigam-se no seu gorjeio de engate. Sei bem que o que escrevo é provisório, bem longe para já das frases definitivas. O texto tem que se afastar do previsível. Uma mãe bondosa e paciente? Claro que não. Então o quê? Irresponsável, má como as cobras, azeda e vingativa? Não, isso também não.
              Nesta tarefa de dedos escreventes há frases que explodem dentro de mim como picada da abelha. Essas ficam por cima, não as carrego mais às costas. Aliviam-me a pressão.
 
                                            A primeira zona de pressão é fundamental
 
       Ele, o Freitas Lobo, lá sabe.
 
                                          

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